“História precisa gerar emoção, senão provoca apatia. Deve ser capaz de provocar reações emocionais como alegria, tristeza, surpresa, medo. Identificação é fundamental para gerar emoção na narrativa”.

 

A afirmação é do Padre Arnaldo Rodrigues da Silva, presbítero da Arquidiocese do Rio de Janeiro que falou sobre “Narrativas Transmidiáticas e Storytelling: Comunicação para a Ecologia Integral” na atividade temática do Rio Tapajós durante o 14º Muticom, na tarde desta sexta-feira (26).

Contudo, apesar dessa relevância, na arte de contar uma história não é suficiente se basear somente nas emoções, pois as imagens também precisam impactar.

“Se você não tiver uma boa atração na primeira linha da sua legenda ninguém vai ler todo o seu texto. Por isso que a imagem precisa estar em consonância. Pode parecer estranho, mas as pessoas passam pela notícia através das imagens que precisam impactar muito mais do que nosso texto”, completa citando como exemplo a imagem emblemática do Papa Francisco sozinho na frente do Vaticano durante a pandemia de Covid 19.

Assessor de comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), antes de se tornar padre e professor do Departamento de Comunicação da PUC-Rio, Pe. Arnaldo trabalhou no departamento de marketing do antigo Unibanco e foi colaborador do Vatican News em Roma. 

Citando o case do vídeo com o bordão “Que show da Xuxa é esse?” que viralizou no lançamento de um documentário sobre as paquitas, destacou o papel da informalidade na estrutura de construção da narrativa, junto com a criação de valores e de relacionamento. “Muita gente falava que, com a informalidade das redes sociais, as grandes emissoras estavam fadadas ao fracasso. Pelo contrário, há o poder de conversão das mídias e elas vão se adaptando”, pontua.

 

Princípios do storytelling

 

Entre os principais fundamentos do storytelling estão a história com um protagonista que geralmente enfrenta desafios e um antagonista. Há um conflito como elemento central que vai gerar tensão e faz prender a concentração do espectador até o desfecho, com a resolução do conflito. É o chamado arco narrativo.

“O mais importante é que a história tenha uma identificação para criar uma ligação, um pertencimento. Significa humanizar nossas comunicações”, afirma.

Outros elementos relevantes são a mensagem tema da história que transmite sobre a condição humana, valores ou lições, e o cenário que é fundamental para contextualizar o conflito e os personagens. Pode ser um lugar físico (um lugar específico) ou emocional (um estado de espírito ou situação).

“Diálogos naturais e autênticos ajudam a dar vida aos personagens e a criar dinamismo na narrativa. Eles também podem revelar muito sobre os personagens e os sentimentos”, ressalta.

 

Comunicação para ecologia integral

 

Coordenador de redes da CNBB, Paulo Augusto Cruz deu continuidade à atividade apresentando o case da Campanha da Fraternidade de 2025 que também pautou o tema da ecologia integral. Formado em Comunicação Social pela Universidade de Brasília, é pós-graduado em narrativas digitais pela PUC-Rio e foi o criador do cartaz da campanha.

Ele discorreu sobre as etapas de elaboração da campanha, o desafio de traduzir a criação ferida pelo pecado ecológico e os elementos para escolha da imagem: “um cartaz próximo da realidade da vida das pessoas, mas que também traz uma espiritualidade profunda com São Francisco, esse homem novo, e a cruz no centro como elemento quaresmal”, afirma.

Nesse sentido, pontuou que não é apenas uma ecologia verde e sim algo que abraça as relações, “partindo do próximo para chegar no que pode parecer distante, mas que também está presente na vida cotidiana”, completa.

Ao falar sobre aprendizados nesse processo, Paulo Augusto destacou o papel da educomunicação na realização da campanha, com a elaboração, entre outros, de carrosséis explicando o que é ecologia integral para ajudar na compreensão a partir da realidade e “mostrando que o tema não é algo novo na igreja, mas histórico”.

A necessidade de reconexão com as dores reais das pessoas, o olhar sensível ao público e atenção às guerras narrativas também foram citados como relevantes. “Quando damos voz à verdade nós enfraquecemos a mentira”, conclui.

As atividades nos 12 rios amazônicos temáticos prosseguem na programação de sábado (27) no 14º Muticom. 

 

Por Flaviana Serafim

Fotos: AgEXCom